sábado, julho 30

One fine day you'll sing
Your inevitable love song
Inevitable lie song
Inevitable cry song

quarta-feira, julho 13

Corre, Bino!

A senhorinha chega. Entra bem sorridente, se desculpa pela demora, elogia o cheiro da comida e coloca sua bolsinha de crochê em cima da mesa. A outra senhora, a dona da casa, toda cheia de falsos amores, querendo agradar ao máximo a rápida visita.
- UDR pra distrair o ambiente ou o gato para comer a hóstia?
Gato preso, rádio desligado, crença salva.
- O, minha filha, você que foi tão religiosa, não quer se juntar a nós?
E então temos um grupo de três: duas senhoras respeitadas e de boa índole e eu, a herege. Herege disfarçada, pelo bem universal de alguns cômodos.
Se não fosse o incrível bom humor, lhes escreveria como uma tragédia, não como comédia. Bendito bom humor, salvou os míseros leitores dessa página de um texto trágico, mas quase me entregou perante o Divino Espírito Santo.
- Dê metade da minha hóstia pra ela!
- Ahnnn... Obrigada, não estou em jejum!
- Mas isso não é empecilho!
Sobre o empecilho, reflito. Há tempos fui uma menina esforçada, dedicando horas à uma pessoa que nem sei se existe. Não jantava com medo do inferno e agora me dizem que não tem importância? Obrigada, padre, por amedrontar uma menininha de 10 anos.
E então a cena se conclui: pegando sua bolsinha, a simpática senhora me abraça e se despede, me garantindo que vai rezar muito por mim, para que Deus me dê um bom futuro.
Mas pelo que eu saiba, o único responsável pelo meu bom - ou não - futuro, sou eu. Só que isso não se fala, é crime não acreditar no possível criador.

quinta-feira, julho 7

mudanças pt. 2

Você pode mudar o quanto quiser... externamente.
Tua essência ta ali.
Mais precisamente, posso assegurar que pernas não são mutantes, diferentemente de cabelos, roupas, pele, face.
A essência continua.

segunda-feira, julho 4

Sinto lhe dizer, mas se quer deixar algo mais bonito, sente e espere.
Espere passar, espere acabar. Esperou?
Agora se levante e olhe. Viu?
Sendo passado, tudo é bonito. A própria palavra é bela, trata do que se passou, do que não se tem mais.
Daí não existe espaço para defeitos.

sábado, julho 2

Em um ano mudanças podem ser mais radicais do que em uma vida inteira. Basta analisar o que ocorreu para se fazer necessária uma transformação nessa rotação louca de 365 dias.

sexta-feira, julho 1

neoepicurista em ação

Assembléia de Deus, quarta a noite, saída do culto.
O pastor se despede, manda todo mundo orar e caminha até seu carro (um Subaru Legacy, diga-se de passagem). Ao vê-lo, a mocinha que até então estava sentada na calçada, se levanta e corre para acompanhá-lo.
- Oi, Deus existe?
- O que?
- Existe ou não?
O tom parecia ofensivo, o pastor apressou o passo.
- É claro que existe, minha filha. Como você ousa fazer uma pergunta insolente dessa?
- E ele é bom?
- CLARO! - Indignado, o homem se pergunta porquê deixou seu carro tão longe da igreja.
- Mas, se ele pode impedir os males do mundo, e não faz isso... é invejoso! A inveja é boa?
- Deus é bom, Deus é bom! - Testa suada, mãos tremendo, passos firmes e rápidos.
- Ele é bom? Ele pode até querer acabar com os males, mas se não consegue, ele é impotente! E onde fica a onipotência divina?
- ... Deus é bom, Deus é bom... - O pastor apenas repetia incessantemente, quase correndo até seu carro. E como parecia longe o caminho!
- Se ele realmente é bom, por que existem os males? Por que ele deixa a maldade existir? Ei, não foge!
Não houve resposta. O homem já estava dentro de seu carro, com as portas trancadas e o motor roncando.

As Três Bizarrices da Noite, I - Crack

De longe eu vejo: são três jovens sentados, comendo (ou devorando) seus lanches. Não há conversa, não há risada, o único barulho ouvido é o nhack-nhack de queijos esmigalhados entre pães, ovos e folhas de alface. Carne não se consome nessa cena.
Aos poucos se aproxima um homem. Uh, como fedia! Bermuda surrada, combinada com um cobertor comido por traças e um chinelo havaiana cheio de estilo, pena que tava corroído de tanto usar. Os dentes moles davam o toque final da figura.
- Oi, me dá seu refrigerante?
Depois de uma mastigada longa e reflexiva, o rapazote barbudo, parecido a um comunista, responde:
- Peraí, moço, deixa eu só tomar mais uns golinhos.
O homem espera tranquilamente, verificando qual dos seus dentes estava mais mole, cantarolando canções que existiam apenas no seu consciente psicodélico e atordoado. Não sei qual característica deve ser ressaltada nesse caso. A espera pode ser sido longa, mas seria recompensada. Talvez nem o frio tenha sido um empecilho, seu cobertor era um escudo, barrava frio e dor, inimigos reais ou imaginários.
- Ó, moço, o guaraná!
- Ae! Valeu!
Sai contente, saltitante.
O instrumento já tem, só falta a alegria instantânea principal.