quarta-feira, agosto 10

Tássia (meio) Amadurecida (ou até Passada)

Eu tava trampando num hotel bacana numa praia qualquer.
Talvez eu soubesse que sua família estivesse ali
- já que vocês de fato estão numa orla por ai -
mas não estou certa disso.

Máquina no pescoço
Uma escadinha que levava da praia pra piscina, coisa fina
e cê sentado ali, no final dos degraus,
óculos de sol na cara e aquela mesma pose de tempos atrás.
Te reconheci, me surpreendi.
Um abraço sincero
Cumprimento singelo.
E sumi.

quinta-feira, junho 23

tenho tanta coisa aqui dentro de mim
é combustível à beça
e se eu realmente fosse destinada a escrever, sairiam romances e poesias incríveis
acontece que eu perdi o tato
perdi o faro
perdi o eixo
perdi o saco
eu não quero mais traduzir, eu não sei mais lidar
água morna também queima
e tive que deixar a mão dentro da caneca até incomodar
pra saber que doía
e eu achando que água morna era conforto
paixão é sentimento efêmero
aqui dentro foi sufocado
apagado
perdeu o posto de coisa boa
agora eu trepo, sacio meu corpo
e que se fodam as minhas tentativas de deixar isso claro
sentimento é abstrato
por que devo botar meus pingos nos is?
por que caguei essa regra tão escrota?
e relendo tudo isso nem consigo chegar a conclusão nenhuma
que se foda tudo.

quinta-feira, março 10

desconstruir dói

trabalho constante
alívio pensante
dói no princípio
mas depois nada será como antes
quando não se concorda
repensar é a melhor proposta
transcender a realidade imposta
e procurar uma melhor resposta
me fiz menina boba
me deixei levar por uma ilusão adolescente
e caí nessa consciente!
tombinho besta que nem doeu
culpa disso,
são os calos que a vida me deu
tá.
foi fofinho, foi legal
até te achei bem bacaninha e coisa e tal
mas maré subiu, maré baixou
paixão sumiu
encanto passou
e não faço disso um açoite
pelo vale do amor até passamos
mas não vimos nada, estava de noite
cês deve ta ligado
que a prosa é boa
mas que tem que ter cuidado
cê diz bolinha
maluco entende quadrado

comé que se diz, então
poeminha ligeiro
verdadeiro na missão
que esses cara, os sentimento
faz a gente se sentir vivo
perguntando sempre "por que não?"
e ficam nessas:
eles vêm e vão

sei não se quero me segurar
sei não se sei me controlar
sei nem se eu sei diferenciar
água, fogo
terra, ar
só sei que eu não sei não me apaixonar

segunda-feira, fevereiro 29

eu não queria acordar.
eu não sentia a mínima vontade de abrir os olhos, mas a luz insistia em bater na minha cara e as pulgas estavam se deliciando com o meu sangue. os olhos ardiam e a pele coçava.
e la estava eu, novamente, acordada, sozinha naquele apartamento, consciente de toda a merda em que eu me encontrava e sem saber pra onde correr.
acabaram os cigarros e o dinheiro pra compra-los. sem fumo, sem paciência, roendo os dedos.
me levaram meus malabares e com eles um pouco da minha graça. sem circo, sem cores, sem ganha-pão e sem diversão.
daquela antiga possível paixão, nem poeira sobrou. sem amor, sem atenção, sem colo ou sorriso.
sentir tesão já era mais difícil e os meses sem sexo nem pesam mais. nem uma trepadinha eu conseguia dar.
olhar no espelho não era tão legal como foi antigamente.
aquela cara decadente era, então, minha realidade.
páro e fito o vazio, pensamento a alguns milhares de quilômetros, quando eu tava descobrindo o mundo de uma maneira até então inexplorada por mim, quando eu tava, finalmente, percebendo que eu não preciso sentir dor quando menos espero. aquelas tristezas súbitas de quarta-feira no meio do café da tarde sumiram. matei a rotina e sufoquei meu princípio de depressão.
então por que voltei? por que desisti de tudo? a tristeza flerta comigo, e eu sem perceber, correspondo. e esse é o flerte que mais se fez presente nas minhas aventuras desde aquele outono de 92.