segunda-feira, fevereiro 29

eu não queria acordar.
eu não sentia a mínima vontade de abrir os olhos, mas a luz insistia em bater na minha cara e as pulgas estavam se deliciando com o meu sangue. os olhos ardiam e a pele coçava.
e la estava eu, novamente, acordada, sozinha naquele apartamento, consciente de toda a merda em que eu me encontrava e sem saber pra onde correr.
acabaram os cigarros e o dinheiro pra compra-los. sem fumo, sem paciência, roendo os dedos.
me levaram meus malabares e com eles um pouco da minha graça. sem circo, sem cores, sem ganha-pão e sem diversão.
daquela antiga possível paixão, nem poeira sobrou. sem amor, sem atenção, sem colo ou sorriso.
sentir tesão já era mais difícil e os meses sem sexo nem pesam mais. nem uma trepadinha eu conseguia dar.
olhar no espelho não era tão legal como foi antigamente.
aquela cara decadente era, então, minha realidade.
páro e fito o vazio, pensamento a alguns milhares de quilômetros, quando eu tava descobrindo o mundo de uma maneira até então inexplorada por mim, quando eu tava, finalmente, percebendo que eu não preciso sentir dor quando menos espero. aquelas tristezas súbitas de quarta-feira no meio do café da tarde sumiram. matei a rotina e sufoquei meu princípio de depressão.
então por que voltei? por que desisti de tudo? a tristeza flerta comigo, e eu sem perceber, correspondo. e esse é o flerte que mais se fez presente nas minhas aventuras desde aquele outono de 92.