quarta-feira, outubro 15

e ainda não me envergonho

Abortei num banheiro de bar!
Bêbada e transtornada,
sem alguma dor ou pudor,
não há motivo para me envergonhar.

Abortei num banheiro de bar!
Mesmo sem filho pra parir
Ou ninguém pra assistir
Como quem pára pra mijar.

Abortei num banheiro de bar!
Não saiu bebê,
como fanáticos me disseram
nem fui pro inferno,
como religiosos quiseram.
Apenas deixei sair de mim
o que de fato nunca foi meu
Segui assim:
o que não absorvi,
pela descarga se perdeu.

não pirou de vez em quando

Estava ela ali:
com os olhos abertos, estatelada
E os amigos mais íntimos
com pesar ou desespero,
encararam sua falta de rima
como o fim de alguma agonia

Fazia tempo que de todo nao se coloria
que, por inteiro, não se transcendia
e pelo permanente,
não se iludia.

Só se fazia confundir!
Queria compreender e profundidade das coisas
dos sentimentos e das pessoas,
mas afogava-se logo na superfície
ou cedia à apneia fria
talvez por causa de seus pulmões pretos

De Capitu herdou apenas os olhos dissimulados,
que enganam os mais desatentos
e deixam pistas aos mais interessados
mas a ninguem dá certeza

Ela não quis apenas sentar para tirar os sapatos
Decidiu desligar a valsa de vez,
viver no infinito silêncio
que precede o fim daquela dança
louca dança
que nos guia nesse plano