quarta-feira, janeiro 25

A Terceira Vez Que Eu Te Vi

Eu havia voltado ha pouco tempo se comparado ao tempo que passei fora. Descobri que a vida na rodovia não era tão atrativa quando as cordas estão paradas e sem música e aquele passeio só me serviu para comprovar minhas experiências.

A cerveja ja estava quente e minhas mãos frias. Eu via seu sorriso apenas pelos seus olhos, o que era uma grande conquista diante da incógnita que você era pra mim desde a primeira vez. Aquelas grandes órbitas ofuscavam a tristeza de um zoológico, ou a minha própria, não me lembro. Só me recordo dos meus questionamentos: por que eu segurei suas mãos? Queria não ter feito isso.

se é válido ou não já são outros quinhentos

Foi aí que eu reconheci um adeus.
Sempre achei que tive muitos em minha vida, mas descobri que possuo mais até-logos do que adeus. Vez ou outra eu experimento os sentidos por uma segunda vez, as vezes até uma terceira.
Dizer adeus é forte demais.
Forte porque implica o nunca e anula o de novo. Extingue qualquer segunda possibilidade.
Eu compreendi que houve uma longa espera, com esperanças de que tudo se ajeite, mas na minha euforia de descobrir o mundo, acabo me esquecendo de que viver não é um ato isolado e que sou responsável pelos sentimentos criados dentro dos outros.
Eu errei.
Eu erro.
Eu vou continuar errando.
Me intitulo como errante antes que me perguntem o nome.
E desses erros tiro meus calos, monto minha armadura.
Dizer adeus é forte demais.
Mas eu não sou fraca.

quarta-feira, janeiro 11

ridículo e particular, mas com um toque de doçura.

E a população se viu em chuvas incessantes naquele fim de tarde.
O garotinho de camisa amarela não vê pesares: para ele a chuva é benéfica!
A moça de vestido se preocupa: a chuva é inimiga de seus cabelos alisados. Ela corre, corre, corre e se enfia em um carro.
O sol aparece timidamente, desejando buenas noches a todos los viajantes. Ah, que sorriso brincalhão!
A luz do Ipiranga se acende e a dos carros também! Maravilha é ver sua professora de história doidona como sei lá quem.
A chuva se acalma e o sol sorri. Sorria pra mim, que ilumina muito mais.
Já eu... já nem sei o que quero.
Não sei quem sou na minha linha do tempo. Confusa estou, perdida ficarei.
Mas é sempre assim... Continuo navegando ao meu ritmo, no meu mar, na minha (in)sanidade.
E é sempre assim.

terça-feira, janeiro 10

Nudez Imaginária

Sem elogios e sem compromisso,
Apenas faça o seu serviço.
São corpos ligados por puro prazer.
Cada um possui sua própria dor!
E de dor o outro corpo não quer saber.

As Aventuras Finais de Tássia

Depois de fotografar e obter bons resultados, Tássia decidiu por encarar seu maior problema, que era o real objetivo por trás dessa viagem. Ela sabia onde encontrá-lo e, num surto de coragem, ligou seu carro e dirigiu. Voltou pela estradinha, entrou pela avenida, passou por uma fábrica antiga que ainda funcionava, virou a direita e lá avistou a portinha.
Que alívio! Esse era o local mais cobiçado por Tássia desde sua juventude, desde quando sua saudade era presente.
Sem mais delongas, se adiantou pela portinha e subiu as escadarias. Era um prédiozinho antigo, quase esquecido, numa avenida movimentada. O apartamento bonito e espaçoso estava vazio, cheio de pequenas lembranças em um canto ou outro. Lá de fora vinha o som das buzinas, dos freios, dos carros de som, mas o interior do apartamento era silencioso e sóbrio, bem diferente do que Tássia se lembrava de algumas décadas atrás. Décadas?
Desceu rapidamente as escadas, com mil imagens na cabeça. Não quis procurar pelo que deveria estar dentro da casa, havia percebido o grande erro que era estar ali. Meses não são como anos, o físico não é como o psicológico e se Tássia estava cansada era porque sua cabeça a fez se cansar. Seus males da velhice vinham junto com seu amargor.
Ao chegar na rua, se viu jovem e disposta e sentiu um medo adolescente. Correu por ruas desconhecidas ou que só vira uma vez e chegou a um ponto final. Já não sabia o que era realidade ou fantasia, sabia que era só uma menina e não devia estar ali, mas seus devaneios a conduziram por tantos e tantos quilômetros.
Sentou e chorou. Sabia que se dormisse acordaria numa cama quente e amável, com o ronco da rotina ao lado e o real presente a sua volta. E por isso ela dormiu, na rua, esperando o momento em que seu pai a pegaria no colo e a perdoasse por crescer e amargar.
Uma pena isso não ter acontecido.