Depois de fotografar e obter bons resultados, Tássia decidiu por encarar seu maior problema, que era o real objetivo por trás dessa viagem. Ela sabia onde encontrá-lo e, num surto de coragem, ligou seu carro e dirigiu. Voltou pela estradinha, entrou pela avenida, passou por uma fábrica antiga que ainda funcionava, virou a direita e lá avistou a portinha.
Que alívio! Esse era o local mais cobiçado por Tássia desde sua juventude, desde quando sua saudade era presente.
Sem mais delongas, se adiantou pela portinha e subiu as escadarias. Era um prédiozinho antigo, quase esquecido, numa avenida movimentada. O apartamento bonito e espaçoso estava vazio, cheio de pequenas lembranças em um canto ou outro. Lá de fora vinha o som das buzinas, dos freios, dos carros de som, mas o interior do apartamento era silencioso e sóbrio, bem diferente do que Tássia se lembrava de algumas décadas atrás. Décadas?
Desceu rapidamente as escadas, com mil imagens na cabeça. Não quis procurar pelo que deveria estar dentro da casa, havia percebido o grande erro que era estar ali. Meses não são como anos, o físico não é como o psicológico e se Tássia estava cansada era porque sua cabeça a fez se cansar. Seus males da velhice vinham junto com seu amargor.
Ao chegar na rua, se viu jovem e disposta e sentiu um medo adolescente. Correu por ruas desconhecidas ou que só vira uma vez e chegou a um ponto final. Já não sabia o que era realidade ou fantasia, sabia que era só uma menina e não devia estar ali, mas seus devaneios a conduziram por tantos e tantos quilômetros.
Sentou e chorou. Sabia que se dormisse acordaria numa cama quente e amável, com o ronco da rotina ao lado e o real presente a sua volta. E por isso ela dormiu, na rua, esperando o momento em que seu pai a pegaria no colo e a perdoasse por crescer e amargar.
Uma pena isso não ter acontecido.