E lá estão os mesmos três jovens sentados. O mesmo nhack-nhack, o mesmo homem sujo esperando o refrigerante sair. Cena perfeita para ganhar uns trocados.
E então ele se aproxima, vem com a fala decorada, a confiança exagerada e a convicção que só se vê nos cultos.
- Olá, jovens! Posso mostrar meu trabalho?
Pela cara da mocinha imagino o que pensou, pobrezinha.
- Claro, moço. - tentou ser simpática.
Sinceramente, fiquei curiosa e não disfarcei: me estiquei pra ver o trabalho do homem. Um chaveiro em forma de coração, com gel dentro e uma plaquinha escrito "Jesus te Ama". Reparei mais um pouco e vi chinelinhos, flores, bolinhas. Tudo confirmando um amor incerto.
Os três demoraram uns bons minutos com elogios e desculpas para fazer o homem ir embora. Aos poucos ele aceitou que seu Deus não o faria lucrar com três jovens marijuanamente esfomeados. Se se revoltou eu não sei, reparei nos risinhos às suas costas. Afinal, se Jesus amasse aquele moço, ele já teria vendido todas.