sábado, agosto 20

asteca-self

Quando os espanhóis derrotaram os astecas, usaram um golpe um tanto quanto baixo para convertê-los ao catolicismo: em cima de seus templos foram construídas igrejas monumentais que impressionavam pelo tamanho e pela beleza. Assim, a cidade de Mexico-Tenochtitlán tomou nova forma a partir do século XVI: as pirâmides e construções astecas foram derrubadas e em cima delas uma nova cidade nasceu, com a Plaza Mayor e todo o seu deslumbre.
Hoje, uma consequência dessas mudanças pode ser vista por qualquer um que visite a Cidade do México: qualquer reforma que se faça no centro da cidade está sujeita a novos achados astecas. Até os dias atuais, se cavar um pouquinho, é fácil achar um resquício dessa civilização. Andando por entre os prédios centrais, pode-se ver um sítio arqueológico ali, outro acolá. São fragmentos.
Que não me cavem. Ao contrário dos astecas, eu ainda estou viva.

domingo, agosto 14

"Senta, pede um café
Diz o que quiser
Espera o sol baixar
Vai esfriar.

Guarda os olhos nas palavras
Desinteressada, logo
Vira o rosto
E a página.

E eu não sei como vem a vontade
De quebrar sua casa e inundar a cidade
E eu não sei de onde vem a vontade
De quebrar o seu quarto e inundar a cidade
E queimar seu coração."

A banda toca, a moça no café, a melodia emociona e faz chorar.
A moça é bela, com olhar triste.
O moço é sensível, observa-a com o coração.
No fim, quarto quebrado.

sábado, agosto 13

As Três Bizarrices da Noite, II - Jesus

E lá estão os mesmos três jovens sentados. O mesmo nhack-nhack, o mesmo homem sujo esperando o refrigerante sair. Cena perfeita para ganhar uns trocados.
E então ele se aproxima, vem com a fala decorada, a confiança exagerada e a convicção que só se vê nos cultos.
- Olá, jovens! Posso mostrar meu trabalho?
Pela cara da mocinha imagino o que pensou, pobrezinha.
- Claro, moço. - tentou ser simpática.
Sinceramente, fiquei curiosa e não disfarcei: me estiquei pra ver o trabalho do homem. Um chaveiro em forma de coração, com gel dentro e uma plaquinha escrito "Jesus te Ama". Reparei mais um pouco e vi chinelinhos, flores, bolinhas. Tudo confirmando um amor incerto.
Os três demoraram uns bons minutos com elogios e desculpas para fazer o homem ir embora. Aos poucos ele aceitou que seu Deus não o faria lucrar com três jovens marijuanamente esfomeados. Se se revoltou eu não sei, reparei nos risinhos às suas costas. Afinal, se Jesus amasse aquele moço, ele já teria vendido todas.

terça-feira, agosto 9

Tassia

A mocinha estava na cozinha e pela janela só se ouvia seu cantar, só se via seu dançar.
Experimentava o feijão, lavava a louça, secava as mãos e voltava ao fogão.
A cada colherada do caldinho, via-se sua alegria aumentar.
"To ficando boa nisso, hein"
Calma lá, mocinha, você tem muito o que aprender. Tem muito o que por nessa cabecinha quase vazia,
Eu digo quase porque ainda existem sonhos e ilusões, que logo serão evaporados, se juntarão aos outros companheiros no ar.
E, no fim, sobra a sanidade.