quarta-feira, dezembro 18

dar liberdade ao sentimento é poder constatar: eu vivi!

sua presença não me contempla mais
mas fiquei com um bom legado
tenho comigo novos sentimentos
um punhado de aprendizado
e nenhum arrependimento

ainda guardo boas lembranças
seu cheiro, sua paz
a sensação daquele toque,
essa que se dá no misto de ternura e tesão
na eternidade daquele quarto caótico
esparramados naquele duro colchão

me restaram ainda algumas ações práticas
a pose pra fumar
a calma ao falar
a vontade de viver no olhar

mesmo quando o fim já se espera
a dor da falta é inevitável
mas nesse caso, como em poucos
ela vem acompanhada de uma felicidade imensurável
ao constatar, longe da euforia:
tô deixando de ser menina
chegando perto do que chamam de mulher

sábado, dezembro 7

acho que vou escrever muito durante esse final de semana!

pra quem eu posso exteriorizar essa loucura?
pra que eu posso exteriorizar essa insanidade?
não posso!
não!
BOOM!

quinta-feira, novembro 28

agradável à vista e que cativa o espírito

veio sorrateiramente e se instaurou.
não que eu não gostasse de abordagens sorrateiras,
mas o surpreso e desconhecido
sempre causa um pouco de espanto.
espanto que se transforma ao navegar por mim
descobrindo em cada novo poro uma nova mulher do vir-a-ser
e tornando incondicional o que já era amor
amor que expande
abrange novas formas e novas expressões
ressignifica-se por uma nova visão.
e eu, que me descobri faminta por viver,
absorvo cada instante
pra não lamentar o antes
quando essa troca não mais acontecer

dona Berenice pediu licença pra entrar

se tem uma coisa que a vida me mostrou
várias e várias vezes
é que o acaso é o único merecedor da minha confiança

já tentei dançar no meu ritmo
e escrever minha(s) história(s) à minha maneira
mas o acaso sempre veio interferir

acaba que eu me acomodo inquietamente nesse tipo de valsa
curiosa pra saber o que acontece
mas apaixonada pela interrogativa diária:
o que será do hoje?

terça-feira, novembro 12

meu amor, me desculpe
mas nunca fiz uma poesia pra você

no entanto peço que não se assuste
ao ler essa frase rude
grotesca e sincera
acontece que eu não escrevo pra ninguém, além de mim.

esses tempos solitários me ensinaram muita coisa
aprendi a matar os demônios do escuro do meu quarto,
a sentir prazer no isolamento - e por mim mesma também

mas antes de tudo, eles me mostraram meu maior defeito
aprendi por si só
que o egoísmo é meu único companheiro.

matar a solidão tem gosto de beijo recente

o vento da noite veio, finalmente, refrescar
bate na fumaça do cigarro e a dissipa
depois de toda a insanidade
essa sobriedade me complica

respiro com calma depois de tanto tempo
e coloco as ideias no lugar
a música, como sempre, vem confortar
e trazer alguns pensamentos pra organizar

o passado não me incomoda mais
aprendo a lidar com ele a cada dia
a cada novo passado
a cada experiência vivida

o cigarro acaba, mas os pensamentos ainda fluem
queria eu me entender com essa solidão toda
e não depender do tabaco pra matar essa vontade louca
de deixar meu signo me guiar

segunda-feira, novembro 4

o mar, pra quem sabe amar

e se me perguntarem algum dia
sobre esse frio que eu sentia
durante alguns momentos da minha vida
só posso responder, com bastante nostalgia:
"foi um amor que vivi,
dentre tantos que se foram
e que não se alojaram por aqui"

porque nada se aloja
tudo flui

domingo, outubro 27

só lhes peço, meus amores,
que não me cobrem pela arte
a poesia vem de longe demais
para contar de sua história,
pelo menos uma parte.

sobre muitas das coisas que ecoam por aqui

daquele desenho que você não entende
posso dizer que diz um pouco de tu
um pouco de mim
um pouco de todos

são as três fases
viemos não sei de onde
indefinidamente permanecemos juntos
e isso não é motivo para desespero
mas em algum ponto, em algum momento
nos vemos ao longe
indeterminadamente longe
e novamente, isso não é motivo de desespero

quando de você eu nada sabia
o seu silêncio me instigou
e me botou para nadar
por entre seus cabelos, seus desenhos
seus barulhos, seus vícios
sua doçura, sua calma

nadei e nada descobri
debaixo da água o silêncio é tão profundo
te afundo num rio só para você saber
mas cuidadosamente te tiro dele
e te acomodo no meu bem-querer

o bem-querer, esse beija-flor que pousa
bate rápido o coração
bate rápido suas asas
e voa!

compreendo nossos vôos
mas queria uma boa lembrança
para pôr no coração
e recordar com carinho
daquela doçura
daquele menino

segunda-feira, outubro 21

um pouquinho daquela loucura toda

deixa a menina solta!
que correndo por aí ela brinca melhor
deixa a menina livre!
que se esbarrando por ai,
seu aprendizado é muito maior

domingo, outubro 13

achados de um passado naquela gaveta esquecida

nesse cubículo posso pensar
nos cigarros baratos,
nos beijos apaixonados
e no sexo desenfreado
me pego sentindo saudade
das conversas amenas
e das horas divertidas,
porque de acidez já me basta minha própria companhia!
o lado direito já acinzentou
me resta o esquerdo, o que dói
o que padece.
e pensando nessa dor,
me dedico a imaginar
se assim como ela,
essa falta também seja fruto de um todo
aquele que me comanda
no fim das contas,
minha única necessidade é minha sanidade
esta, que eu não sei bem tratar
e não sei rimar, ou animar, ou amar
não sei o que sou

sexta-feira, outubro 11

leia com o coração. e despoje-se do conceito limitado de amor

o amor vem em ondas
segue alguns fluxos
e pousa por aí.
as vezes pousa no singular
as vezes, no plural
não existe número pra quem sabe amar!
as vezes, o amor encontra um reflexo
e nele insiste
vive intensamente
até que embarca em novas ondas, novos fluxos
e se esvai, novamente, por aí.
o amor é dança
o amor é arte
e se eu quiser rimar,
posso falar que "sofrer faz parte"
mas e quando nem reflexo existe?
ele sonha, idealiza, devaneia
sobrevive por gestos e olhares
que nem sempre, como me disseram, são suficientemente claros
mas continua nutrido
sofrido
esperando o momento de ser vivido
e nesse ponto, entra minha louca consciência
aquele meu eu, lá no fundo
me mostrando que amores não deixam de ser amores
por não serem vividos
amores sempre serão amores
e eles são livres! (e sobre isso ainda quero divagar)
vêm em ondas, seguem os fluxos
e novamente pousam
mas eu, na minha ínfima posição de amante iniciante,
consegui extrair a dor que aqui habitava
sem rima, sem nexo
sem nem o beijo que eu esperava
mas é que é assim mesmo
com amores ou com poesia:
nem sempre há nexo
nem sempre há rima
nem sempre se dá como desejava
nem sempre acalenta como se precisava
mas se expressou, existiu, emocionou
e, assim, encontrou a validade que eu necessitava.

quinta-feira, junho 6

passando um pano com perfume em cima da mesa

me deram batata e eu me enchi de saudade
me deram o floyd e eu abracei a nostalgia
onde estou vivendo?
o que, de mim, estou fazendo?
é bom estar de volta àquele íntimo escondido!
agora é a hora da faxina e da janta fresca.
reformar, reformular, reinventar.
renovar, reafirmar, reamar.

quarta-feira, janeiro 23

O Amor é Substitutivo

- Caralho, mas que lugar fedorento!
Não consegui conter as palavras. Mal abri a porta e já veio aquele cheiro podre do qual quase me esqueci completamente. Eu estava voltando das minhas últimas férias amorosas, bem prolongadas dessa vez, na casa de Magê e agora seria definitivo.
Coloquei a mala em cima da cama, era um fim de tarde, então acendi um cigarro e me sentei na janela da cozinha/sala. Tentei não reparar na casa, nas latinhas de cerveja pelo chão, nas cinzas em cima da mesa, nas correspondências embaixo da porta e, principalmente, nas fotos daquela vadia na geladeira. Apenas fumei o meu cigarro e observei a rua, como ha tempos não fazia.
Sinceramente, era bom estar de volta. Cheguei a sentir saudades da minha sujeira, do meu desleixo e até das pequenas orgias que aconteciam por aqui. Magê era sistemática demais. O seu dormir tarde não era tão tarde quanto deveria, o seu trabalho não era tão empolgante quanto deveria, cheio de horários, prazos e regras. Seus valores eram bem interessantes, toda cheia de si, mas não curtia nem um ménage. Seu humor me instigava as vezes, as mudanças repentinas poderiam ser um desafio do qual eu sempre vencia, até que cansei.
Cansei do seu stress, das suas preocupações, dos seus problemas quase sempre ínfimos, mas que se tornavam enormes quando do drama. Cansei da sua neura com a casa limpa, dos seus gatos infernais que pisoteavam meus livros, meus escritos, minha cara. Cansei da sua insegurança, da sua neurose, dos seus ataques, da sua raiva.
Depois do cigarro, resolvi tomar um banho, mas esqueci que a água estava cortada então deixei para depois. O único problema nesse pequeno trajeto (janela da cozinha - porta do banheiro), foi passar pela merda da geladeira, e por aquelas fotos escrotas. Ela sorria, resplandecente ao meu lado, enquanto segurávamos nossas canecas de chopp. É... Magê sabia beber! Deixava qualquer merdinha de 20 anos caindo em ebriez. E dele ria, naquele mesmo sorriso da foto. Que merda!
Olhei pra cama, há quantos meses ela estaria bagunçada? Magê gostava de arruma-la todas manhãs e isso era um saco. Eu gostava era de bagunçar, de joga-la de um lado pro outro. Seu sexo era realmente incrível e talvez eu precisasse de um pouco disso. O melhor da vida é isso e ócio.
Pensei em comprar uma cerveja, la fora fazia um calor do caralho. Mas me lembrei que também estava sem energia e cerveja quente só pioraria meu humor. Resolvi fumar um baseado e ficar no sofá. Deixo tudo pra amanhã: as contas, a pequena limpeza, a mala, as fotos, o sorriso, Magê... Ela gostaria de fumar um baseado aqui, lugar pequeno, bem aconchegante, a fumaça pairando... é, definitivamente, Magê gostaria de estar aqui agora.
Mas não, ela não está. Verifiquei minha carteira, tinha grana suficiente para passar um mês aqui, ou para passar uma noite na Augusta, enquanto procuro outro bico. O bom de ser fotógrafo é que sempre tem alguma fresca querendo pagar de modelo. E quem sabe assim não encontro uma outra Magê, linda e fútil, gostosa e apaixonada, sexy e neurótica. A vida é feita de ciclos e encerrei o meu mageniano.
Voltei à carteira, voltei a mim. Olhei no relógio: 20h. Tomei meu banho gelado e corri em direção ao metrô. Nada como uma Augusta para curar uma Magê.

segunda-feira, janeiro 21

Na beira de um penhasco, é tudo ou nada.
E agora vai, voa, blackbird!