Ainda entretidos com as duas visitas anteriores, os mesmos três jovens continuavam comendo seus mesmos lanches, na mesma lanchonete.
Percebi que a mocinha estava distraída demais com as folhas de alface caindo do pão, mas os dois rapazes ficaram atentos à mesa ao lado. A cena era como que uma fotografia antiga e promíscua deles mesmos: dois homens e uma mulher. Em pouco tempo eles desistiram de pensar dessa maneira.
Os homens foram embora e a mulher sentou numa mesa mais próxima, despertando a atenção da mocinha. Não era necessária nenhuma discrição, a mulher estava completamente fora de si e não perceberia três pares de olhos curiosos devorando seu copo de cerveja.
Sua cabeça ia de cima a baixo, de um lado a outro, sua boca murmurava perdigotos e sua mão esboçava força pra segurar um copo. As vezes acordava e olhava pros lados, mas não se importava com quem olhava.
Infelizmente, eu já estava de saída. Enquanto procurava a chave do carro, vi de longe os jovens pagando a conta. Entrei e estava ligando o carro quando ouvi barulho de vidro quebrando e depois gritos. Olhei pra trás e vi três jovens rindo enquanto uma mulher embriagada pagava um copo quebrado de cerveja, gritando pra quem quiser ouvir que ganhou aquele dinheiro com muito suor.
Ainda consegui ouvir da mocinha, ao fundo: "O mundo tá muito estranho hoje, Jão, muito estranho".