quinta-feira, dezembro 22

As Aventuras de Tássia III

Em frente a uma sala, Tássia pensou e pensou. Se lembrou daquela canção sulista sobre chegar até tal ponto e desistir em tal momento e refletiu mais um pouco. Colocou os óculos na cabeça, tirando sua única defesa, expondo ao mundo seu olhar, sua tradução. Se sentiu um pouco indefesa mas não recuou: que vissem sua alma, era melhor que a verdade seja exposta logo, as meias-verdades não a satisfaziam mais, as entrelinhas não a sustentavam como outrora.
Respirou fundo e entrou.
E na verdade não foi tão ruim assim, poucos ali a conheciam e os que sabiam da sua existência, ou esqueceram-na ou não reconheceram-na. Seu maior problema estava por entrar. E quando entrou não se deu conta de sua presença, o que foi um alívio.
Tássia assistiu a aulas, aprendeu mais sobre seu universo favorito, fez anotações e ficou satisfeita com sua absorção. Teria por ora dois desafios: encarar seu maior problema e arrumar uma maneira de registrar o mundo como seus olhos o vêem.
O segundo desafio nem pode ser chamado como tal. Entrar em uma sala com armários, roubar um equipamento e sair por aí fotografando não seria um grande problema. E ela o fez sem maiores complicações.
Agora, para lhes contar sobre o primeiro desafio, pretendo me estender mais um pouco e garanto que não será bem feito, posto que a memória me falha alguns detalhes como rosto, voz, cheiro e personalidade. Mas os deixo com a certeza de que Tássia vê o mundo com bons olhos e desajeitado coração: suas fotografias ficaram lindas, mas o sentimento nelas implícito não se pode ser compreendido. Nem por ela e nem por ninguém.

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